Dançar em ritmo de poesia
Idealizado em 2014, este projeto contou com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF), e teve início em 2016. Sua primeira ação foi oferecer uma oficina formativa de 20h-aula, que teve lugar na Cia Lábios da Lua, espaço cultural situado no Gama-DF.
De 2014 a 2016, a artista atuou neste espaço cultural como professora de dança, preparadora corporal para o teatro, e na gestão de projetos.
A metodologia de criação envolve três fases: Sensasom, na qual investigamos corporalmente os efeitos de fonemas gerados externamente (por outras pessoas) e internamente (pelo próprio corpo). Palavrimagem, onde são criadas pautas corporais a partir de composições visuais sobre as palavras, desenhadas pelas próprias alunas. Leitura Louca é uma brincadeira com a voz, onde distorcemos o texto lendo-o de trás para frente, mudando os ritmos, as dinâmicas e melodias da fala. Uma vez que o texto é completamente desvinculado de seu sentido semântico, o movimento corporal é aplicado, trazendo o material expressivo investigado nas etapas anteriores. Esta metodologia atua no princípio de tradução intersemiótica, na qual os sentidos perceptivos estimulam-se reciprocamente, gerando ações cênicas.
"É com uma alegria tão profunda. É uma tal aleluia. Aleluia, grito eu, aleluia que enfim assinei o contrato com o FAC e tive o recurso depositado na conta, dando início ao projeto Movimento da Palavra. Após meses de preparação e pré-produção, o primeiro ensaio. O texto de Clarice Lispector, trecho do livro Água Viva, é o que motiva a criação inicial. (...) O texto fala da efemeridade do momento presente, com a típica linguagem Lispectoriana, que envolve e nos transporta para uma outra dimensão de (des)entendimento de ser. Foram muitas oportunidades de reflexão sobre o tema a partir deste fragmento... de alguma forma, a presença desse texto delineou toda a minha vida: passei a viver (ou tentar viver) no instante-já."
(Texto retirado do blog que compartilha o processo criativo)
A oficina formou seis pessoas, que atuaram na segunda fase do projeto como mediadoras durante as sessões de declamação performática. As mediadoras ficavam inseridas na plateia como espectadoras e somente ao final da sessão começavam a interagir com as performers, entrando no jogo da dança, e convidando os demais a participarem também. A performance seguiu um roteiro de leituras estabelecido a partir da pesquisa criativa que teve sequencia à oficina.
|
Declamações Performáticas
Nos ensaios, Thais Kuri e Juliana Victória levaram a um novo patamar as investigações corporais iniciadas na oficina, traçando um fio condutor temático entre os textos de Clarice Lispector, Nicolas Behr e Arnaldo Antunes, que inspiraram a criação. A movimentação corporal seguia pautas criadas através da metodologia, adaptáveis ao espaço, uma vez que seriam executadas em bibliotecas que possuíam diferentes conformações de espaços e tamanhos. A surpresa e a improvisação estiveram em todo o processo. Dez bibliotecas receberam as mediações, em regiões de vulnerabilidade social. Alunas e alunos de escolas públicas do Ensino Fundamental estiveram presentes, bem como a comunidade em geral. Itapoã, Santa Maria, Ceilândia, Sobradinho, Estrutural, Núcleo Bandeirante, Riacho Fundo, Gama e Samambaia foram as cidades que receberam o projeto.
Profunda Superfície
Juliana Victória, que fora aluna de Thaís desde 2014, demonstrou o seu talento e criatividade, tornando-se colaboradora e parceira nesta e em outras criações. Sua expressividade vibrante e presença de palco trouxeram uma riqueza para as declamações. Aliadas ao olhar perspicaz e à criatividade técnica de Thaís, a combinação de talentos fez surgir um trabalho corporal que pedia continuidade, um aprofundamento. Da pesquisa criativa, nasceu uma narrativa em que voz e corpo fluem articulando questões da fragilidade humana em meio à vastidão de Brasília. Assim surgiu o espetáculo Profunda Superfície. Pensado em uma estética intimista, circulou por diversos espaços culturais do DF entre 2017 e 2019. Nesta fase de apresentações, Leandro Sena, Ayla Pereira e Valério Yoo se juntaram ao projeto, nas funções de cenotécnica e sonoplastia. Ivo Mateus Alvim criou a iluminação do espetáculo. A luz ganhou um papel importante na construção cênica, compondo com os ritmos e espaços do corpo.
A Palavra Segue em Movimento
A metodologia pedagógica desenvolvida durante o projeto foi aplicada no Sistema Socioeducativo do DF, com a oficina Palavrimagem, que buscava oferecer uma possibilidade de expressão criativa e reflexão através do contato com a poesia visual e concreta. Estas oficinas aconteceram nos meses de julho de 2018 e janeiro de 2019, na Unidade de Internação de Santa Maria e na Unidade de Semiliberdade Feminina do Guará.
Em 2019, Valério Yoo deixa os bastidores e assume o palco, fazendo o duo com Juliana Victória em profunda superfície, e no processo criativo de Sertão em Si, espetáculo em desenvolvimento pelo método movimento da palavra e com inspiração no livro Grande Sertão Veredas e na experiência O Caminho do Sertão - Caminhada Ecosócioliterária da qual TKuri participou em 2016. A pesquisa segue, e a estreia é prevista para 2021, no formato de declamações online.